Vivendo no mundo instantâneo em que estamos, é cada vez maior a quantidade de informações que temos que absorver. É como se o vai e vem do cotidiano acelerasse cada vez mais, criando tarefas infinitas e diminuindo o tempo que temos para nós mesmos.
Estes tempos, no entanto, não têm vez em “Buscar a Paz”, última canção lançada pelo músico Amandi. O artista, que atualmente mora em Fernando de Noronha, encontra na natureza e nas cenas de seu cotidiano a inspiração para compor suas músicas. Seu mais recente lançamento fala sobre um lugar leve e descontraído, em que a simplicidade é a chave para a paz e alegria.
Como começou a sua relação com a música?
Minha infância foi em Catolé do Rocha, no sertão da Paraíba, uma região em que o forró e os aboios são muito fortes entre a população. Meu primeiro contato fazendo música foi ainda pequeno, tocando guitarra na igreja. Na mesma época, como eu ainda não sabia tocar as músicas que já existiam, comecei a criar minhas próprias composições com os acordes que eu aprendia. Cada sequência de acordes dava origem a novos versos e eu fui me encontrando cada vez mais.
A música, para mim, veio de uma forma muito natural. Sinto que é uma maneira de me expressar. Se estou feliz, agoniado, triste ou animado, é na música que eu transpareço estas emoções, uma verdadeira terapia.
Qual foi a inspiração para “Buscar a Paz”?
Esta canção teve um processo diferenciado. Em geral, minhas músicas retratam momentos de minha vida que vivi e estou vivendo, mas com “Buscar a Paz” eu me sentia assumindo mais o papel de espectador do que de compositor. Em 2009 eu estava numa época muito complicada em minha vida, tinha acabado de terminar um relacionamento e estava com uma depressão profunda.
Esta canção surgiu como um mantra para me acalmar, uma forma de materializar um lugar seguro onde eu gostaria de estar. Ela fala sobre a grandeza da simplicidade e da paciência, de dedicar-se aos nossos relacionamentos, de criar um local de paz mesmo em meio aos problemas e a correria do dia a dia. Até hoje, quando eu a canto, sinto meu estado vibracional mudando para uma coisa boa, me sinto mais tranquilo. É incrível sentir a energia que ela traz.
Como é o seu processo de produção hoje?
Meu processo de criação costuma acontecer de três formas diferentes.
A primeira, que é a mais comum, é quando escrevo algo que estou vivendo naquele momento. Depois, olho para aquele escrito e penso no que ele pode se tornar. Às vezes sinto que é uma poesia, às vezes sinto que uma música deve surgir dali. Aí começo a criar a melodia, fazer as adequações, reescrever, escrever mais. É como se fosse um processo de aceitação.
O segundo acontece de uma forma mais intuitiva. É quando começa a surgir a música e a melodia na mesma hora. Às vezes eu sento com meu violão criando umas notas e, de repente, vem uma ideia que já sai de uma forma mais melódica. A música nasce de uma maneira muito natural, é como se ela estivesse no ar e, se eu não a canalizasse naquele momento, ela se perderia para sempre.
O terceiro vem de uma coletânea de impulsos. Agora, por exemplo, estou realizando um mochilão por várias cidades do Brasil. Cada lugar que eu chego me dá um impulso diferente, uma energia única que eu vou coletando. Depois, eu junto tudo isso e transformo em música.
Eu vou acumulando todo este material e, uma ou duas vezes ao ano, viajo para Vitória – ES onde fica o Estúdio Cachalote (@cachaloteestudio) para fazer as gravações. Lá a gente começa a trabalhar logo cedo, às 8h00 da manhã, e não temos hora pra acabar.
Para você, como é ser um artista independente hoje em dia?
Teve uma época, eu diria que por volta de 2000 até 2010, que foi muito complicada para nós músicos. Estávamos vivendo uma grande transformação, as gravadoras estavam falindo e nós não sabíamos o que ia acontecer. Muitas das minhas canções que foram compostas naquela época ficaram guardadas na gaveta e, só agora, que estão ganhando vida.
Com o passar dos anos o digital foi ganhando espaço e produzir música foi se tornando mais acessível. Hoje contamos com meios de gravação que não exigem grandes investimentos e, com a ajuda de parceiros como a iMusician, podemos disponibilizar nossas músicas nas plataformas digitais para o mundo todo. Acredito que estamos evoluindo para um cenário em que fazer e disponibilizar música seja cada vez mais democrático.